Fácil é não nos esquecermos de uma das sobremesas aí
servidas e do facto de termos feito a refeição na presença da Meryl Streep.
Facil é um dos seis restaurantes com duas estrelas
Michelin em Berlim. Fica no 5º andar do The Mandala Hotel, num pátio todo
envidraçado e ladeado por bambus.
O espaço é luminoso e elegante. Dali, devido à
cobertura em vidro, olhando para cima vê-se o céu, a chuva, as estrelas.
Olhando para baixo vimos e saboreamos as criações
do chef Michael Kempf e do maître de pastelaria Thomas Yoshida, vencedor em
2015 do prémio Gault&Millau.
A cozinha de Kempf é moderna e criativa e apoia-se
essencialmente em produtos locais.
O trabalho de Yoshida é artístico e soberbo, como provam as
criações das suas sobremesas.
Optámos por visitar este espaço ao almoço, onde os
preços são consideravelmente mais acessíveis.
Fizemos um menu personalizado de três pratos por pessoa,
escolhidos a partir da lista disponível.
Ao todo vieram para a mesa cinco pratos diferentes (2
entradas iguais, 2 pratos principais diferentes e 2 sobremesas diferentes.
Entretanto foi servido o couvert composto por
manteiga, pesto e quatro tipos de pães. Todos excelentes. Surpreendente o pão de caril.
De seguida chegou o amuse bouche.
De entrada saboreámos um ceviche de cavala com
coentros e rabanete.
Diferente do ceviche clássico, este prato apresenta
ainda assim a frescura do original.
Dentro dos pratos principais aviámos um polvo com
feijão, alcachofra e tomate. Prato suave e mais ao estilo da cozinha mediterrânea.
O outro prato principal foi um guisado de veado com couve-de-bruxelas, cranberry e cogumelos. Neste prato forte e de influência germânica destaque para as diferentes texturas,
nomeadamente o crocante da couve-de-bruxelas. Surpreendente.
Foi o capítulo das sobremesas o que mais
surpreendeu.
Sobretudo a sobremesa Jivara-Chocolate-Almond, Ginger and Dried Fruits, que no nome apresenta apenas uma pequena
parte dos ingredientes que a compõem.
A pergunta que se impõe é, quantos
sabores cabem nesta sobremesa? Impossível de dizer.
Desde o chocolate, aos frutos secos
passando pelo gelado, há uma imensidão de outros sabores, ingredientes, texturas e emoções.
Para além desta riqueza destaca-se a
componente artística e visual da sobremesa. De uma delicadeza, talento e precisão
a escultura da cara em chocolate.
Uma experiência inesquecível, quando a
excelência dos sabores anda a par com a sublimidade da estética.
A outra sobremesa foi Quince, Chervil and Madagascar-Vanilla. Mais simples esteticamente, mas igualmente
perfeita na composição sensorial (paladar e visual).
Difícil é esquecer as boas experiências.
Já agora, uma dúvida, será que a Meryl, por aquelas paragens por conta da Berlinale, nos sentiu tão bem como nós a ela?
Enquanto pensávamos sobre esta questão, para finalizar, chegaram estes mimos doces para nos adoçarem ainda mais a alma e o estômago.