terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Há Oro no Rio de Janeiro

Não, não foi descoberto o material precioso no Rio de Janeiro. O título deste post revela antes que existe algo igualmente valioso no Rio. Um restaurante chamado Oro e que tem como chef Bronze. Felipe Bronze. Eleito o chef do ano, 2013/2014, pela Veja Rio.
A cena gastronómica de alta cozinha concentra-se sobretudo em São Paulo. Porém, nos últimos anos, têm surgido óptimas revelações no Rio de Janeiro. O Oro é uma delas.
Localizado entre o Jardim Botânico e a Lagoa, este moderno e confortável restaurante apresenta uma cozinha muita criativa.
Optámos pelo Menu Oro 5, composto por quatro pratos e uma sobremesa. Há ainda mais duas opções, o Oro 7 (seis pratos e uma sobremesa) e o Experiência Oro (nove pratos e uma sobremesa).
Cruzámo-nos com alguns ingredientes que dias antes já tínhamos experimentado no D.O.M. de Alex Atala. Contrariamente ao que não sentimos neste restaurante paulistano, no Oro a surpresa foi constante. A forma criativa de apresentação dos pratos é extraordinária, o que aliado à valorização dos ingredientes brasileiros e à excelente confecção resulta numa combinação notável.
O chef faz uma releitura das receitas tradicionais, da sua memória gastronómica, recorrendo a técnicas moleculares, para de um modo artístico e lúdico apresentar a sua gastronomia.
De início foram-nos servidos um conjunto de snacks. Cada um mais apelativo do que outro.
Sorvete de ostra, alga Noori, raspa de lima com saúva da amazónia.
Com este sorvete sentimos mais uma vez o sabor cítrico da formiga saúva, acentuado pela raspa de lima e complementado com a intensidade de sabor a mar da ostra. Proposta extraordinária para quem adora ostra.
Profiteroles de queijo do Marajó.
Apesar de não gostar de queijo, reconheço que é uma proposta bem conseguida.
Tempura de ovo de codorniz com ar (espuma) de beterraba.
Composto muito interessante e saboroso.
Barriga de porquinho com vinagreta de Xerez.
Uma delícia, com o pormenor soberbo de injectar a vinagreta no final.
Caldinho de feijão e couve acompanhado com um torresmo.
Uma proposta tradicional reinventada. Fantástica.
Milharal, cones e espuma de milho doce com catupiry e pó de pipoca.
Snack divertido e com boa conjugação de sabores.
Este desfile de criatividade e bom sabor encheu-nos por completo. Tudo o que viesse a seguir não anularia o prazer deste começo.
De seguida saboreámos uma deliciosa cavaquinha grelhada com creme de pistachio e palmito pupunha. A carne da cavaquinha apresentou-se impecável e a conjugação com os restantes ingredientes é extraordinária. Adorei.
O prato seguinte foi novamente peixe. Black cod, um peixe do Alasca. Servido com palmito pupunha fermentado, folha de capuchinha (da região serrana de Petrópolis), molho miso, rapadura e caldo de galinha caipira tostado. Formidável. Desde a textura muito macia do peixe à fusão de sabores.
Antes da sobremesa, comemos rabada com trilogia de milho (espuma, farinha e pó de milho verde). Apresentou-se também muito bem, apesar de não ter sido a proposta que mais gostei.
De sobremesa voltámos a ter doses de criatividade e diversão. Com diversas pequenas porções o chef leva-nos numa viajem aos sabores da sua infância.
A sobremesa chama-se “Brasilidades” porque explora ingredientes tipicamente brasileiros. Foi então servido pipoca caramelizada com sal de cumaru, brigadeiros, brownie, romeu-e-julieta (flan de queijo com goiabada), pudim de leite com amburana (árvore típica do sertão nordestino) e sorvete.
Mas o momento mais inventivo da noite foi uma espuma de cocada que o empregado coloca num recipiente com nitrogénio líquido a 196 graus e transforma aquela espuma em um sorvete.
Um festival sensorial. A refeição que tivemos no Oro estimulou os nossos sentidos.
Este restaurante inventivo arrisca. Sem perder o controle.
Alimenta-nos. Saborosamente bem.
E diverte-nos. Muito.
Que experiência sublime.