terça-feira, 19 de agosto de 2014

Ishikawa

Na nossa viagem ao Japão tínhamos como um dos objectivos ir a um restaurante de topo. A dificuldade inicial foi a escolha, uma vez que o Japão é o local do mundo com mais restaurantes com estrelas Michelin (cerca de seis centenas) e, adicionalmente, o país com mais restaurante com três estrelas.
Para ajudar à difícil escolha recorremos à lista Asia's 50 Best Restaurants de 2014. Depois de várias avaliações, de uma tentativa de marcação frustrada noutro restaurante (não é fácil reservar um restaurante no Japão porque para além de exigirem marcação telefónica, por vezes não aceitam marcação de não japoneses e, noutros casos, com meses de antecedência já não há lugares, até porque diversos restaurantes são muito pequenos), lá chegámos à escolha final.
Essa escolha recaiu no número 16 da lista dos 50 melhores restaurantes da Ásia, o Ishikawa, em Tóquio.
Numa noite, quente e chuvosa de Julho, vestígios do Tufão que ocorreu no sul do país e se aproximava da capital, fomos a este restaurante galardoado com três estrelas Michelin.
O Ishikawa é um pequeno restaurante, numa casa de madeira escura, que comporta quatro salas privadas e um balcão com sete lugares. Num ambiente elegante, luminoso pelo mobiliário em madeira de cipreste, deliciámo-nos com uma culinária japonesa requintada.
Apesar de toda a elegância e requinte presentes, o ambiente do restaurante é completamente despretensioso e informal.
Sentámo-nos ao balcão, o que nos permitiu assistir bem de perto à confecção do menu ao estilo kaiseki por parte do chef Hideki Ishikawa e do seu sub-chef. Essa proximidade permitiu também uma grande interacção com ambos ao longo de todo o jantar.
Tudo a postos e depois de termos escolhido o saké que acompanharia a refeição, começou o desfile dos pratos.
O deslumbre chegou  à mesa.
Como entrada veio crina de caranguejo e beringela grelhada com uma pitada de gengibre. Para além de um início delicioso, começou também o desfile de loiças lindíssimas, como é apanágio de uma refeição em terras nipónicas.
Seguimos a refeição com um prato grelhado, no caso bife japonês e raiz de lótus com casca. Soberbo.
Passámos para a sopa, com bolinho de tartaruga de casca mole com escudo de água e legumes juliana. Maravilhosa.
O prato seguinte foi sashimi de besugo decorado com algas frescas e ervas japonês. Irrepreensível.
Apresentaram-nos outro prato grelhado. Desta vez peixe Ayu com ervas "Tade" grelhado no carvão. Estes peixes são grelhados ainda vivos. Crocantes, surpreendentes e deliciosos.
Prosseguimos com outro sashimi, agora de lula com sésamo e gengibre. Igualmente irrepreensível.
De seguida deliciámo-nos com um picadinho de enguia com pasta de ameixa vermelha e tronco Taro. Fantástico.
O prato seguinte foi baleia "Lardo", cera de abóbora e tofu com ovos.
Como manda a tradição kaiseki, o último prato antes da sobremesa, foi arroz branco com camarão sakura e milho, sopa miso e vegetais em pickles.
A sobremesa foi uma melancia fresca com gelatina cointreau e leite de coco. Simples e fresca.

Fechámos esta refeição mágica com chá verde japonês.
Tratou-se de uma experiência muito rica. Para além da alta e refinada qualidade, quer dos produtos, confecção e apresentação, destaque para a simpatia e informalidade de todo o staff.
Ao longo da refeição, enquanto, entre outras preparações, o peixe estava a ser fatiado para sashimi, o wasabi estava a ser preparado, fomos falando com os chefs, nomeadamente sobre o nosso país de origem, aspecto que trouxe, simultaneamente, surpresa e emoção ao chef  Hideki Ishikawa, acerca da nossa viagem pelo Japão, que trouxe alguma apreensão quando revelámos que iriamos no dia seguinte fazer a ascensão do Monte Fuji, por o tufão do sul do país se estar a encaminhar para norte.
A culminar toda esta experiência fantástica, tivemos a despedida mais bonita e surpreendente de sempre num restaurante.
Para além de nos terem dado num saco de papel duas bolinhas de arroz com camarão sakura para o dia seguinte (haverá maior despretensão que isto?), o chef e uma das suas colaboradoras acompanharam-nos até ao exterior do restaurante e ficaram no topo da rua a dizerem-nos adeus. Enquanto nós, deliciadas e felizes com tudo, fomos descendo a rua a olhar para trás a retribuir o aceno de despedida.
Surpreendente, emocionante e fascinante são as palavras.