sábado, 9 de fevereiro de 2013

(In)tendente

Há áreas das cidades que são valorizadas e vividas. Outras, ainda que centrais, são percepcionadas de uma forma negativa e apenas vividas por segmentos mais desfavorecidos da população. 
As dinâmicas criadas numa cidade não são definitivas. O que é valorizado ou não num determinado momento, poderá deixar ou passar a ser valorizado noutra época.
O eixo Intendente/Martim Moniz, por vicissitudes diversas, tornou-se um espaço desqualificado, inseguro e paulatinamente menos vivido pelos lisboetas.
Grafiti junto ao Largo do Intendente
Os poderes públicos locais cientes dos problemas desta área procuraram nos últimos anos contrariar esta tendência. Simultaneamente, organizações locais procuraram dinamizar actividades diversas com o objectivo de dar a conhecer esta área e integra-lá na restante cidade.
Entre as várias intervenções e iniciativas, destaca-se a requalificação do Largo do Intendente e a mudança do gabinete do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa para este local, com um forte efeito simbólico e moralizador.
Essa requalificação foi catalisadora e permitiu que surgissem algumas iniciativas privadas, muitas delas numa perspectiva de integração das diversas comunidades multiculturais ali existentes.
Entre os vários projectos surgiu o restaurante/bar O das Joanas, no Largo do Intendente. Este espaço procura na sua oferta introduzir influências das comunidades do mundo que ali vivem. Para além de iniciativas temáticas, como o recente serão chinês, e as anteriores festas africanas e do Brasil, com participação da população local, a ementa inclui pormenores gastronómicos do mundo.
Exemplo disso foi o nan, pão indiano, de presunto e patê de azeitona e os pastéis de fuba que por lá comemos. A ementa, que não é fixa, vai apresentado outras ofertas gastronómicas do mundo.
Aos fins de semana há ainda um brunch, com uma excelente oferta na relação quantidade/qualidade/preço.
No que me diz respeito não excluo nenhuma área da cidade e não me incomoda cruzar-me na rua com a prostituta que momentos antes estava sentada com o seu último cliente, um indiano, na mesma esplanada que eu. A cidade faz-se de camadas e é diversa. O mundo é diverso. Todas as pessoas e comunidades têm valor e merecem respeito.